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Para Além do Excel: Porque a Transparência Corporativa é Agora e Inegociável

· Leitura de 8 min
José Heitor Soares
Co-Founder EXO

A Nova Era da Abertura

O mundo empresarial contemporâneo está a passar por uma profunda transformação, movendo-se para além do relatório financeiro tradicional para abraçar uma visão mais holística das operações corporativas. O que antes era considerado informação proprietária é agora, cada vez mais, esperado que seja público, abrangendo o impacto mais vasto de uma empresa no mundo e a sua resiliência a riscos emergentes.

A transparência corporativa descreve a medida em que as ações de uma empresa são observáveis por entidades externas. Para fomentar verdadeiramente a transparência, as empresas devem infundir maior divulgação, clareza e precisão nas suas comunicações.

A Mudança Estratégica

A exigência de transparência corporativa já não é apenas um fardo de conformidade, mas sim um imperativo estratégico. Trata-se de construir confiança, atrair capital, mitigar riscos e garantir valor a longo prazo numa economia global cada vez mais escrutinada.

Numa era em que 81% dos inquiridos a nível global exigem confiar que uma empresa "faz o que está certo", segundo o Edelman Trust Barometer, a confiança está diretamente correlacionada com a abertura percebida de uma empresa. Isto torna a confiança, antes um subproduto intangível, um ativo crítico e mensurável, diretamente influenciado pelas práticas de transparência.

Uma declaração conjunta de mais de 300 organizações instou explicitamente os decisores políticos da UE a protegerem a base da "dupla materialidade" da Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), sublinhando a ampla procura por transparência.

As Forças que Impulsionam o Imperativo da Transparência

A crescente exigência de transparência corporativa não é uma tendência passageira, mas uma mudança fundamental e sistémica, impulsionada por forças poderosas e interligadas.

O Poder dos Investidores: A Ascensão do Investimento ESG e do Ativismo Acionista

Os investidores já não se focam exclusivamente nos retornos financeiros tradicionais; as suas decisões de investimento são cada vez mais influenciadas por fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ESG). De facto, 79% dos investidores institucionais consideram fatores ESG na sua tomada de decisão. Investidores que representam uns impressionantes 25 biliões de dólares em ativos planeiam duplicar os seus ativos ESG no prazo de cinco anos.

Expectativas Societais: Exigências de Consumidores, Colaboradores e Comunidades

Um número significativo de 65% dos consumidores estaria disposto a terminar a sua relação com uma marca se esta não levasse a sério as iniciativas de sustentabilidade e sociais. Para os talentos, o compromisso ESG é crucial, com 76% dos millennials a acreditar que as empresas podem ter um impacto positivo na sociedade.

Catalisadores Tecnológicos: Amplificando os Apelos à Responsabilização

As redes sociais e outras plataformas online aceleraram significativamente a procura por transparência, permitindo que as partes interessadas partilhem informações, coordenem o ativismo e exerçam pressão coletiva de forma mais eficiente do que nunca.

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O mercado agora penaliza a opacidade ou o silêncio tanto quanto, ou até mais do que, a deturpação explícita. O risco evoluiu de exagerar os esforços (greenwashing) para o custo de oportunidade de subestimar ou ocultá-los (green-hiding).

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Principais Impulsionadores da Procura por Transparência Corporativa

CategoriaDescriçãoImpacto Principal
Impulso dos InvestidoresInfluência crescente do investimento ESG, ativismo acionista e investidores institucionais a alinhar valores com investimentos.Pressão financeira direta, mudanças na alocação de capital, influência na remuneração executiva.
Pressão SocietalExigências crescentes de consumidores, colaboradores e comunidades por práticas empresariais éticas, sustentáveis e socialmente responsáveis.Reputação da marca, lealdade do consumidor, atração e retenção de talentos, licença social para operar.
Mudanças RegulatóriasProliferação de novas leis a nível global que exigem a divulgação de beneficiários efetivos, riscos climáticos e métricas de sustentabilidade mais amplas.Obrigações de conformidade, penalidades legais e financeiras, necessidade de sistemas de reporte internos robustos.
Avanços TecnológicosPlataformas digitais e redes sociais que permitem a disseminação rápida de informação, ação coletiva e um escrutínio acrescido do comportamento corporativo.Amplificação das vozes das partes interessadas, gestão da reputação em tempo real, aumento da pressão por respostas rápidas.

ESG: A Visão Holística do Impacto Corporativo

A transparência corporativa hoje está intrinsecamente ligada aos fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ESG). O ESG é um enquadramento que ajuda as partes interessadas a compreender como uma organização está a gerir os riscos e as oportunidades relacionadas com a sustentabilidade.

Ambiental (A)

Foca-se no impacto ambiental de uma organização, cobrindo temas como alterações climáticas, emissões de GEE (incluindo Âmbito 3), gestão de resíduos e resiliência a riscos climáticos físicos.

Social (S)

Refere-se às relações de uma organização com as suas partes interessadas, abrangendo capital humano, salários justos, diversidade, impacto na comunidade e ética na cadeia de abastecimento.

Governança (G)

Examina como uma organização é liderada e gerida, incluindo a remuneração dos executivos, práticas do conselho de administração, direitos dos acionistas e controlos internos para a responsabilização.

Um conceito central no relatório ESG eficaz é a materialidade. O conceito de "dupla materialidade" está a ganhar força, exigindo que as organizações considerem tanto como as questões de sustentabilidade afetam as finanças da empresa (materialidade financeira) como o impacto das operações da empresa no mundo (materialidade de impacto).

Mais do que 'Fazer o Bem'

Um forte desempenho ESG não é apenas uma escolha ética; é um enquadramento estratégico para avaliar a viabilidade a longo prazo de uma empresa, as suas capacidades de gestão de risco e o seu potencial geral de criação de valor num mundo em rápida mudança.

A crescente exigência de transparência está a ser cada vez mais codificada em lei, criando um panorama regulatório global complexo e em evolução.

  • Estados Unidos: A Lei da Transparência Corporativa (CTA) foi promulgada para combater atividades financeiras ilícitas, embora uma atualização recente do FinCEN tenha isentado as entidades nacionais. Leis estaduais, como as da Califórnia, e requisitos internacionais significam que as empresas dos EUA ainda enfrentam obrigações significativas de reporte climático.
  • União Europeia: A UE é líder global com a sua Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) e a Diretiva de Diligência Prévia em Matéria de Sustentabilidade das Empresas (CSDDD), que impõem relatórios abrangentes com base na "dupla materialidade".
  • Enquadramentos Internacionais: Estão a surgir normas globais para criar uma base de referência para os relatórios. Os principais enquadramentos incluem:
    • ISSB (IFRS S1 & S2): Focado na "materialidade única" (valor da empresa).
    • Normas GRI: O sistema mais utilizado, focado no impacto geral de uma organização.
    • Normas SASB: Identifica questões ESG materialmente financeiras específicas do setor.
    • Recomendações da TCFD: Foca-se nos riscos e oportunidades financeiras relacionadas com o clima.

Os Benefícios Tangíveis da Transparência

Abraçar a transparência corporativa gera uma multiplicidade de benefícios que contribuem significativamente para o valor e a resiliência a longo prazo de uma empresa.

  • Menor Custo de Capital: Empresas transparentes geralmente beneficiam de melhores condições de financiamento e mais oportunidades de crescimento.
  • Reputação Melhorada: A divulgação pública do desempenho ESG constrói confiança e lealdade com clientes, colaboradores e comunidades.
  • Tomada de Decisão Aprimorada: Os dados ESG fornecem informações valiosas que podem levar à eficiência de recursos e poupança de custos.
  • Atração de Capital: Investidores com visão de futuro são atraídos por empresas comprometidas com a sustentabilidade.
  • Melhor Gestão de Risco: A transparência ajuda a identificar e avaliar riscos ambientais e sociais, garantindo a estabilidade a longo prazo.

As Consequências da Opacidade

Ignorar a transparência e os princípios ESG pode expor as empresas a riscos graves que afetam o desempenho financeiro, a reputação e a sustentabilidade a longo prazo.

  • Desempenho Financeiro Inferior: Estudos mostram uma correlação positiva entre um forte desempenho ESG e um desempenho financeiro superior.
  • Penalidades Legais e Regulatórias: O incumprimento de regulamentos como a CSRD pode resultar em multas de até 5% do volume de negócios líquido mundial.
  • Reputação Danificada: Incidentes ESG negativos, como derrames de petróleo ou escândalos de emissões, podem causar danos rápidos e duradouros a uma marca.
  • Perda de Talentos: Os colaboradores procuram cada vez mais organizações com propósito, e a falta de compromisso ESG pode dificultar o recrutamento e a retenção.

Conclusão: O Imperativo Estratégico da Transparência Proativa

A procura por transparência corporativa é uma mudança inegociável no panorama empresarial global. Evoluiu de uma obrigação de conformidade para um ativo estratégico proativo, essencial para construir confiança, atrair capital e garantir valor a longo prazo.

O Ponto Essencial

Nesta nova era, a verdadeira resiliência corporativa e o crescimento sustentável serão definidos pela vontade de uma organização de olhar para além do balanço. Para as empresas que pretendem prosperar nas próximas décadas, a transparência proativa não é apenas uma boa prática; é um imperativo estratégico para o sucesso.